Matrizes da literatura - Roma
Por: Vanessa V.
10 de Maio de 2017

Matrizes da literatura - Roma

Literatura Poesia História Da Literatura

1) Discorra sobre as características da Poesia Épica em Roma. Em seguida, escolha um dos itens abaixo e discorra sobre ele.

 

A poesia Épica, configura-se como uma narrativa em versos, na qual se descrevem fatos históricos e se exaltam personagens heroicos. A epopeia é uma narrativa literária na qual fatos históricos são misturados a lendas e a mitos, os heróis aos deuses, criando uma atmosfera de maravilhoso.

Os elementos da epopeia são a ação, o desenvolvimento do assunto, que acontece através de narrativas, descrições e comparações; as personagens que são os agentes (heróis) da ação; o maravilhoso que se manifesta pela intervenção dos deuses. 

É característica do estilo épico o caráter universal, visando à coletividade. A poesia épica fala da sociedade como um todo e das aspirações dessa sociedade. O tempo da narrativa o passado heroico nacional, no qual a história é grandiosa e os fatos enaltecedores.

Quanto à estrutura, a epopeia tem forma pouco variável, poeta expõe o assunto que vai cantar; a invocação, na qual o poeta pede o auxílio das musas; a dedicatória; a narração, que é o desenvolvimento da ação; e o epílogo, em que o poeta faz o fecho da obra. 

Ao contrário das epopeias homéricas em que o poeta exalta os heróis do passado para que os do presente possam imita-los, na Eneida há exaltação dos valores do passado, justificando-se, assim, a glória romana da época do autor através da descendência troiana.

O herói virgiliano difere totalmente dos heróis homéricos, pois ele traduz os principais valores romanos, pensando sempre na coletividade e em seu destino, não na glória pessoal. Ele busca ser um homem direito e honesto. Sua valentia e coragem são qualidades de caráter não de força, um herói que vai ao encontro do seu Destino, predito por sua mãe Vênus, reiterado por Júpiter, porém retardado por Juno e demonstra obediência irrestrita aos deuses e aos superiores, mesmo que isso possa trazer-lhe infelicidade. Ele apresenta-se como um homem de missão e um herói da paz, mas circunstâncias levam à guerra. Não realiza as próprias ambições, somente cumpre seu dever com justiça e fidelidade. 

A religião aparece durante todo o poema, mas uma religião diferente da homérica. Apesar do gênero exigir a presença de deuses, eles aparecem só em sonho. 

O tempo da narrativa não é linear, é cíclico, mostrando pleno conhecimento do poeta da doutrina pitagórica, que já havia usado na IV Écloga, referindo-se aos grandes meses e anos.

O poeta é o portador de uma mensagem que vem do mais profundo do ser e, por isso, é o porta-voz dos deuses. Essa tradição estabelece a união entre filosofia e poesia no seio do poema virgiliano.   Virgílio sintetiza toda tradição épica anterior adaptando-a aos valores religiosos, morais e filosóficos de sua época e integrando-se perfeitamente aos ideais políticos de Augusto e do novo regime político romano, o Principado.  

 

A influência da Eneida sobre outras obras da Literatura Ocidental.

 

Em Eneida, Virgílio empregou o chamado hexâmetro datílico, um sistema métrico em que cada verso (em latim) possui seis dátilos (expressão que vem o grego antigo e significa “dedo”), isto é, seis grupos com três sílabas, duas breves (de curta duração fônica) e uma longa (de ampla duração fônica). Esse esquema, em português, corresponde às sílabas tônicas (longas do latim) e às sílabas átonas (breves do latim).

Esse esquema rítmico fazia com que a epopeia fosse lida e estudada em voz alta de modo sonoro e bem articulado. Muitos poetas latinos posteriores, como Lucano, tiveram Virgílio como modelo absoluto de imitação. Não é à toa que, na Idade Média, Dante Alighieri transformou Virgílio em seu guia, na figura que o conduziu pelo Inferno e Purgatório (as duas primeiras partes da Divina Comédia,obra de Dante).

Muitos outros poetas ao longo da modernidade fizeram referência à Eneida. Um exemplo são Os Lusíadas, do português Luís de Camões; e  O Paraíso Perdido e O Paraíso Reconquistado, do britânico John Milton. Além disso, no século XX, poetas como Ezra Pound, T. S. Eliot e Fernando Pessoa, bem como romancistas como Hermann Broch, escreveram obras em que trechos da Eneida ou mesma a figura de Virgílio tiveram importância fundamental.

 

 

 

2) Discorra sobre as características do Lirismo em Roma. Em seguida, escolha um dos itens abaixo e discorra sobre ele.

 

A principal característica do Lirismo em Roma é a subjetividade. Por meio da poesia, o autor revela suas impressões ligadas ao mais profundo “eu”, extravasando emoções e sentimentos pela expressão verbal rítmica e melodiosa. Cultuado desde os tempos da Antiguidade, era representado pelo canto, forma pela qual as composições poéticas eram apresentadas, acompanhadas do som de uma lira – um instrumento musical de cordas mais popular daquela época. A musicalidade era concebida como fonte inspiradora e criativa de todo o sentimentalismo em ascendência.
                Tais formas poéticas, umas muito antigas, outras mais modernas, caracterizavam-se por apresentar um determinado número de versos, representadas por uma forma e ritmo específicos, geralmente fixos. Como forma de representá-las, vejamos os exemplos mais comuns:
Soneto – De origem italiana, surgido no século XIII, é um poema composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos (quartetos) e as duas últimas com três (tercetos). Essa forma perpetuou-se por todos os estilos literários, atingindo a contemporaneidade.
 Elegia – Originado na Grécia, trata-se de um poema no qual a temática pauta-se pela morte ou outros acontecimentos tristes. 
Écloga – poema que retrata a vida bucólica, os acontecimentos ligados à vida pastoril.
Idílio – Retratado sob a forma de diálogos, também traduz a temática campesina.
 Ode -  É um poema originário da Grécia, exaltando valores nobres sob um tom entusiástico.
Hino – ode destinada à exaltação dos deuses da pátria.

Mister salientar que além do espírito subjetivo, principal componente da poesia lírica, ela ainda conta com a participação do “eu-lírico”, ou seja, a própria voz que fala no poema, expressa pelas emoções e pelo sentimentalismo, no qual o eu–poético não mantém nenhuma ligação com o artista (o poeta).

O gênero lírico aparece em Roma muito mais tarde do que o épico ou drama, particularmente no século II a C, durante a influência helenística e quando as circunstâncias políticas e sociais tinham condenado as mentes dos cidadãos cada vez mais à vida privada. As convulsões sociais que levaram à falta de ideais comuns para justificar um épico nacional, fez brotar uma série de composições curtas e delicadas em que renuncia a tudo o que é grandeza, virando na privacidade de pequenas coisas. As características desta nova poesia permanecem semelhantes aos da letra grega (mitologia, polimetría, etc.), mas a diferença é que os romanos escreveram um pouco de poesia lírica e foi um produto completamente literário, não enraizada nos costumes sociais, concebido para ser lido e não cantado. Neste contexto, surgiu pela primeira vez círculo Lutacio, Catulo e seus epigramas famosos, a quem podemos considerar como um precedente de Neoteric, verdadeiros criadores e portadores de toda uma renovação literária e estética.

Houve em Roma primitiva uma lírica religiosa e uma lírica profana. Da lírica religiosa, conhecemos fragmentos do Carmen Fratrum Arualium, do Carmen Saliorum, dos Oráculos, atribuídos a Faunus, a Carmenta e às Camenae. À lírica profana pertencem: as nênias, composições fúnebres de cunho ridículo, ao que deixam entrever os antigos; os elogia, epitáfios métricos inscritos nas lousas sepulcrais, réplica em versos das laudationes funebres, primitivos tituli sob as imagines dos antepassados no atrium das casas romanas, e as inscrições triunfais, em saturninos, mandadas gravar no Capitólio pelos generais vencedores. Sôbre-êsses germes — formas líricas elementares, fadadas, certamente, a fenecer, ao pragmatismo e à rusticidade do espírito romano — veio o helenismo, pela mão de Lívio Andronico, plantar a semente de seu quadrissecular lirismo literário.

Por que esse amor da Poesia Lírica causa sofrimento e por que é considerado “besteira” pelos próprios autores líricos.

Na poesia lírica, o amor é descrito como um sentimento que entusiasma o homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza e a Verdade. Também aparece como um sentimento de significado contrário pela própria natureza. Por um lado, o Amor é manifestação do espírito, por outro é manifestação física. O Amor deve ser experimentado, deve ser sentido e não apenas mental, um sentimento de pensamento.

Na sua poesia lírica, o poeta passa a ideia de que o amor só vale a pena quando é complexo, e contraditório.

Esse amor causa sofrimento para o eu-lírico e é considerado besteira pois ele nega a realização física do amor por entender que o sexo estraga o verdadeiro Amor (com maiúscula), isto é, o amor como ideia universal, como abstração pura e perfeita, acima de todos as experiências individuais. O amor perfeito, intangível é o amor platônico, aquele que não pode ser concretizado, daí o sofrimento do eu-lírico por não ser correspondido.

 

3) Discorra sobre o gênero cômico em Roma. Em seguida, escolha um dos itens abaixo e discorra sobre ele.

No gênero cômico em Roma domina a intriga e o enredo. Suas personagens respondem a tipos de uma obra a outra não se distinguem com clareza. Assim encontramos em todo seu teatro a escravos intrigantes e engenhosos, jovens apaixonados ou reflexivos, donzelas honestas ou sem-vergonhas, o pai desprezível, tirânicos, avaros e, em várias obras, se distinguem tipos como o soldado fanfarrão, as parteiras autoritárias e cortesãs ansiosas de dinheiro. Se a isto lhe somamos a boa manipulação que faz do latim vulgar introduzindo costumes e ditos romanos, temos que uma série de tipos marginais que ironizam a uma série de personagens admirados da sociedade romana, que utiliza desta maneira para criticar, a seu modo, os costumes e instituições de Roma.

De modo geral todos os recursos cômicos buscam também a diversão e o espetáculo. Vê-se uma grande mobilidade no palco. A trama e o vestuário são às vezes espetaculares. As personagens rompem a ilusão cênica e falam com o público. O diálogo é vivo, cheio de coloquialismos, com injurias, duplo sentido (geralmente obsceno). As palavras transbordam-se na cena, acumulam-se, inventam-se, parodiam outras linguagens. Abundam os chistes e os imbróglios graciosos.                                             

A comédia romana teve características originais. Plauto tinha grande veia poética aliada à sua força cômica de grande farsista. Imitava a comédia nova do teatro grego. Fundia várias peças gregas e enxertava cenas de uma peça na outra.

Terêncio fazia representações para as classes mais abastadas e seu teatro era menos farsesco e com um tom um pouco mais sério. Plauto e Terêncio criaram muitos tipos populares que depois foram espalhados por todo o mundo através da Comédia Dell'Arte. Seus tipos: o fanfarrão, o avarento, o criado astuto, do filho de família devasso, o parasita etc., servem de inspiração até hoje a todos os que trabalham com a comédia, inclusive no cinema e na televisão. Por exemplo: "A Comédia dos Erros" de Shakespeare foi inspirada em "Os Menecmos" e Moliére inspirou-se em "Anfitrião".

Entre os textos cômicos Romanos, destacam-se: "O Cabo", "Caruncho", "Os Menecmos", "Os Prisioneiros", "O Soldado Fanfarrão", "Aululária", "Anfitrião" e "Trinumo" de Plauto e "O Punidor de Si Mesmo" de Terêncio.

As influências da comédia plautina na história da literatura

 

Além de ter obtido reconhecimento como comediógrafo em seu tempo, Plauto serviu de referência para muitos outros escritores. Alguns recursos usados por ele em suas peças, como os enredos sobre triângulos amorosos, a crise de identidade de seus personagens e a referência do teatro dentro do próprio enredo, foram retrabalhados por Shakespeare, Molière, Camões e, no Brasil, por Ariano Suassuna em suas composições. Em Plauto há cenas que funcionam como peças dentro das peças, com referências constantes à encenação, aos atores e espectadores. Esse tipo de metalinguagem produz um efeito de quebra da ilusão dramática e rompe, propositadamente, a sensação de verossimilhança. Shakespeare, por exemplo, além de aproveitar partes de enredos de Plauto, usa a noção de teatro dentro do teatro de modo parecido com como o escritor romano fazia.

Essa concepção de que o “mundo é um teatro”, expressão conhecida por muitos a partir do segundo ato da peça As you like it (como gostais), de Shakespeare, seria, portanto, uma possível alusão a uma ideia antiga, que se destaca em Plauto. Da mesma forma, a última peça shakespeariana A tempestade explora o mesmo enredo de Plauto em Rudens: um grupo de náufragos chega a uma ilha desconhecida e misteriosa. As alusões do personagem Próspero ao teatro e à ilusão dramática podem ser vistas como igualmente vestígios de uma relação entre o mestre inglês e o dramaturgo romano, explica a pesquisadora.

A crise de identidade de Hamlet encontra paralelos na troca de identidades de Anfitrião. A trama dessa comédia se desenvolve em Tebas, quando Júpiter é tomado de amor por Alcmena e assume a forma de seu marido, Anfitrião, general grego que comanda legiões tebanas. Júpiter é auxiliado por Mercúrio, que por sua vez assume a forma de Sósia, o escravo de Anfitrião. Júpiter engravida Alcmena, que dá à luz Hércules, um semideus. Quando retornam da guerra, Anfitrião e Sósia deparam com seus duplos, o que em Plauto resulta em situações cômicas e uma sucessão de mal-entendidos. Esta história, observa Isabella, reaparece na literatura readaptada ao ambiente lusitano por Camões em 1587 e na França do século XVII na peça de Molière de mesmo nome. O francês adaptou também Aulularia em seu O avarento, mudando ambientes, renomeando personagens e introduzindo situações compatíveis com o teatro do século XVII.

A comédia da panela, foi a inspiração para o pernambucano Ariano Suassuna escrever O santo e a porca, a história do avarento Euricão, devoto de Santo Antônio, que guarda suas economias numa porca de madeira. 

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