GENEALOGIA DA MORAL
Por: Marcelo M.
17 de Fevereiro de 2015

GENEALOGIA DA MORAL

Filosofia Ética Natureza Lógica

Muitas vezes ouvimos frases como: “isso não pode”. “não diga isso”, “falar tal palavra em público ou perto de certas pessoas é feio”, “tem o lugar certo para isso ser feito”, etc. Muitas vezes, até dizemos essas frases aos nossos filhos, amigos, cônjuges e ficamos indignados se vemos ou ouvimos algo que fere a moral. Mas afinal, o que é moral? Deixamos de fazer algo, simplesmente porque nossos pais disseram que é errado, sujo e feio. E fazemos coisas porque nos disseram que é assim que é o certo. Em nenhum dos casos nos apresentam as consequências de tais atitudes. Só nos dizem o que devemos ou o que não devemos fazer.Assim, nossos pais nos ensinaram porque os nossos avós os disseram o que é certo e o que é errado e, assim, vem sendo dito há séculos, passando de geração para geração. Se pararmos para refletir, concluiremos que, em muitos casos, o que deixamos de fazer não causa mal algum a nós e muito menos aos outros. Limitamo-nos por apenas um motivo; não ferir a moral. Ser imoral significa estar sujeito ao nojo e ao ódio das demais pessoas. Mas, quando surgiu essa tal moral e de onde ela veio?

Em “A Genealogia Da Moral- Uma Polêmica (ou só Genealogia Da Moral)”, Nietzsche critica a moral ocidental, fazendo um estudo das origens dessa moral deste Sócrates. Nessa obra, o alemão analisa a questão: “o que é o bom?”. De onde vem essa moral que domina o Ocidente há quase dois mil anos?

A intenção de Nietzsche é construir  a história da moral ocidental e apresentar a sua origem. Para o filósofo, os homens de sua época, principalmente os psicólogos ingleses, não levantam questões para chegar à origem da moral, do bem e do mal,do certo e do errado. Nietzsche acredita que não há algo que seja bom em si mesmo e como filólogo vai procurar na etimologia, a origem do bem e do mal. A palavra “bom” servia para designar os atos dos poderosos e o que era útil para eles, enquanto o que era nocivo para eles e os atos da plebe foram chamados de “ruim”. No entanto, os valores mudam com a ascensão do Cristianismo, tornando superiores, os fracos e os pobres. Deus vem ao mundo em forma humana para salvar a humanidade, mas seu espírito não encarna no corpo de um rei ou de qualquer nobre. Ele vem na forma do filho de um carpinteiro, e passa seus anos na Terra vivendo como um pobre. A pobreza vence a nobreza ou seria esse um meio de manter a plebe afastada do poder? Afinal, se o homem pobre, fraco e submisso é o maior exemplo para a humanidade, ambicionar o seu oposto se torna condenável. O forte pode ansiar a fraqueza, mas o oposto é um erro, um pecado. O bom não fere, deixa a vingança nas mãos de Deus. A riqueza do bom não está neste mundo, mas no além. Sofra aqui para ser feliz no Paraíso.

O homem bom, humilde e pobre paga os impostos para sustentar o homem mau, nobre e rico, cuja autoridade foi dada por Deus. A fraqueza e a miséria passam a ser sinônimos de liberdade, dando assim mais segurança aos poderosos, que desfrutam dos prazeres e do luxo aqui, enquanto a plebe espera sua riqueza no Reino dos Céus.

A pobreza, realmente, venceu após o Cristianismo ou mais uma vez, os valores beneficiaram apenas a nobreza? Nietzsche termina a primeira parte (ou primeira dissertação) do livro, mostrando a importância de incluir os estudos históricos morais nas faculdades de Filosofia e também de algumas ciências como História, Medicina e Filologia. O filósofo inicia a segunda dissertação descrevendo o ser humano como um animal capaz de fazer promessas e também de esquecer. Considera o esquecimento como uma força positiva que fecha as portas e janelas da consciência, tornando possível a renovação mental das pessoas. Para Nietzsche, a promessa é o oposto do esquecimento, tornando o homem preso á própria memória e ás suas palavras. As “ideias fixas” paralisam o sistema nervoso e intelectual, impedindo o ser humano de dar espaço para novas e diferentes ideias. Com isso surgem os valores de “responsabilidade” e “negligência”. E mais uma vez os valores beneficiam os poderosos em detrimento da plebe. A “responsabilidade” é um meio que a nobreza usa para transformar o povo em devedor e os nobres em credores. Dessa forma, a população passa a sentir que tem uma dívida com os poderosos e para obter o título de responsável, é necessário quitar seu débito. Porém esse débito nunca é quitado completamente e por mais que trabalhe e pague seus impostos, o povo estará sempre em dívida com o Estado. Se essa dívida não puder ser paga com bens, deverá ser paga com o sofrimento do devedor.

 O sofrimento físico passa a ser uma forma de pagar as dívidas materiais e limpar a consciência. O sangue se torna uma moeda, muitas vezes mais forte que qualquer outro objeto e trabalho. O ascetismo transforma o homem em um negador da vida e da natureza que busca  algo além da realidade que se conhece. Nietzsche usa o termo “niilismo” para denominar esse ressentimento que o homem tem pela vida.

A terceira dissertação trata, exatamente, do ideal ascético. O filósofo critica e luta contra a negação da vida. Para ele, os ascetas são pessoas que pretendem ser melhores que a vida e o mundo. Ao se deparar com a nonsense  da vida, o ser humano quer a todo custo encontrar um objetivo, mesmo que tal esteja apenas no seu desejo e imaginação. O asceta se força a ignorar todos seus instintos naturais, com o intuito de vencê-los. Acredita que para viver é preciso negar a própria vida. Para o praticante do ascetismo, a única realidade é a vida “post morten”.

Para Nietzsche, o niilismo do ideal ascético é um modo monstruoso de apreciar a vida. Ao invés de saciar seus desejos, o asceta escolhe a abstinência para eliminá-los e, assim, chegar á verdade. O ascetismo é, na verdade, a luta do homem contra si próprio e um meio de dar sentido ao sofrimento. No Ocidente, o método asceta mais conhecido é a castidade. O homem ocidental, influenciado pela cultura judaico-cristã e pela filosofia platônica, vê na luta contra seu instinto sexual, o meio mais eficaz de alcançar o Paraíso. Os antigos romanos e os gregos veneravam o sexo e o praticavam deliberadamente. Com a ascensão do Cristianismo e a queda das religiões pagãs, os ocidentais passaram a ver a sensualidade como um mal. Não que sentissem ódio dos prazeres sensuais, muito pelo contrário. Amavam tanto a libertinagem e a volúpia, que a luta contra esses desejos causariam sofrimento. E o sofrimento é um meio de retribuir a Jesus por Sua morte na cruz e,dessa forma,alcançar a salvação.. É abandonar o mundo sensível e alcançar o inteligível.

 É muito comum as pessoas tratarem a moral como sinônimo de respeito e ética. Porém isso é um erro, já que cada uma dessas palavras tem seus próprios significados. Respeito significa não invadir a individualidade do outro, aceitar as diferenças e ouvir o que o outro tem a dizer, concordando ou não. A ética é um ramo da filosofia, baseada na razão, que se dedica ao estudo dos princípios ideais do comportamento humano perante a sociedade. A ética procura mostrar as causas e as consequências de um ato. A moral, por sua vez, é baseada em tradições e costumes, principalmente religiosos.

Enquanto a ética apresenta os resultados de uma ação, a moral apenas proíbe algumas ações sem explicar de forma lógica o motivo da proibição,a moral, ao contrário do respeito, invade a individualidade das pessoas, pois obriga ou impede arbitrariamente um ato. As obrigações e as proibições morais são, na maioria das vezes, criadas pelo nojo, crenças e preconceitos.

Nietzsche foi um crítico da moral ocidental em sua época e vai à busca da resposta para algumas perguntas como: “de onde veio essa moral?”, “quando surgiu?” e “o que é o bem e o mal?”. Através de uma pesquisa na História e na Etimologia, o filósofo vai apresentando a gênese do pensamento europeu do século XIX. Essa moral que dominou a Europa, após a ascensão do Cristianismo e da influência da filosofia platônica no continente, iria mais tarde chegar a África e, mais tarde a América. Isso, devido á dominação de países europeus nesses lugares

A moral combatida por Nietzsche ainda influencia o Ocidente, principalmente o continente americano. Até hoje, temos obrigações e proibições que não nos favorecem em nada. Deixamos de praticar algo porque nos disseram que é errado e praticamos atos, apenas porque nos dizem que é certo. Porém nunca há uma explicação lógica para o certo e o errado da moral. Geralmente, dizem que é assim e pronto ou então usam dogmas religiosos e/ou se baseiam em tradições para afirmarem seus conceitos.

O inimigo número um da moral é o sexo e tudo que se relaciona a ele. Dizer o nome de um órgão genital em público causa mais indignação á sociedade que falar sobre guerra, roubo e assassinato. Acho que nunca vou conseguir entender isso e, como não há uma explicação racional para a moral, passamos a viver uma hipocrisia geral, onde se ensina algo por tradição e medo e,por incapacidade ,quase ninguém pratica.

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Marcelo M.
Ribeirão das Neves / MG
Marcelo M.
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Graduação: licenciatura em filosofia (Centro Universitário Claretiano)
Curso Completo de Português : da Fonologia à tecinicas de Redação;História da Filosofia.
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