Seu filho está preparado para a volta às aulas?
Por: Elis P.
17 de Janeiro de 2021

Seu filho está preparado para a volta às aulas?

Uma reflexão para os pais e toda a comunidade escolar sobre a volta às aulas presenciais em tempos de pandemia.

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Pais, seu filho já está preparado para a volta às aulas?

No quesito protocolo de segurança quanto ao COVID, você tem sido um bom exemplo para o seu filho?

Você confia no seu filho fora de casa e longe dos seus cuidados neste momento? Ele está preparado para esse desafio?

Sou Elis Pires, mãe e professora, e gostaria de propor uma reflexão sobre essas questões e a volta às aulas no cenário pandêmico que estamos vivendo, no “novo normal”, afinal nas escolas as crianças estarão sozinhas, sem seus pais para lhe atender e com uma professora que terá que dar um suporte a cerca de 20 crianças de uma só vez, então pergunto, principalmente para os pais que clamam pela volta às aulas, SEU FILHO ESTÁ PREPARADO PARA VOLTAR ÀS AULAS?

As crianças estão em casa, convivendo apenas com as famílias e vendo muitas vezes um adulto reclamando de ter que usar máscara, minimizando a pandemia, e criança aprende pelo exemplo. Então pergunto para os pais:

Você tem como GARANTIR que sua criança vai seguir os protocolos de segurança adotados pelas escolas para a volta às aulas? Estar de máscara e utilizar a mesma da forma correta, saber trocar a máscara ou lidar com ela no momento das refeições, respeitar a máscara dos colegas ou respeitar os professores se tiverem que a repreender pelo não uso ou uso inadequado do equipamento de proteção? Usar álcool em gel ou lavar as mãos com água e sabão principalmente quando forem ao banheiro ou quando forem se alimentar? Manter distanciamento dos colegas principalmente na entrada e saída ou no horário do recreio? Essa garantia não é responsabilidade da escola, essa garantia deve ser preparada no lar, é a famosa “educação que deve vir de casa”, a escola neste caso deve apenas orientar, advertir, repreender e em última instância mandar para casa as crianças que não estiverem cumprindo os protocolos, afinal essa criança estará colocando toda a comunidade escolar em risco.

A criação desses hábitos, exigidos pelo “novo normal”, dependem mais da família do que da escola, mas não vejo ninguém falando sobre isso, só falam que a escola tem que se adequar... Ora, se as famílias não se adequarem, não tem como a criança ir para a escola.

Moro em frente a um supermercado, e vejo constantemente famílias passeando nas calçadas com o cachorro ou mesmo indo às compras, acompanhadas de crianças com idade aparente entre 2 e 7 anos, sem máscara, e aí eu me pergunto: será que aquela criança que está sem máscara acompanhando os pais no supermercado vai conseguir ficar 4 horas dentro da escola de máscara? Os pais deveriam aproveitar esse momento das compras para irem educando seus filhos de modo a desenvolverem esse novo hábito.

Esses dias eu vi um vídeo de um casal que tentou embarcar em um vôo com uma menininha de 2 anos sem máscara (você também pode ver em https://youtu.be/Vb95Lylf450), a empresa não aceitou que eles viajassem e os retirou da aeronave. O pai se esforçou tentando colocar a máscara na menininha e ela não aceitava o equipamento. O vídeo foi polêmico, nos comentários, muitos condenavam a companhia aérea, afinal a menininha tinha só 2 anos e não tinha noção da importância do uso da máscara, e muitos outros apoiavam a companhia, afinal se era regra deveria ser seguida. Qual foi a minha visão nessa situação? Eu assisti ao vídeo, e a menininha usava uma roupinha linda, parecia um pijaminha decorado, uma botinha, tinha um lacinho no cabelo, fofíssima, e na saída da aeronave ainda levava sua bela mochilinha nas costas, e pensei porque será que ela está usando todos esses acessórios? Claro, a criança usa por influência dos adultos, que falam que é bonitinho, que ela está linda usando, e diversos outros incentivos, e já que a família pretendia viajar e sabia que o uso da máscara era obrigatório, já deveria ter preparado a pequena antes, deveriam estar usando a máscara até dentro de casa para que ela achasse legal e usasse também (crianças são assim, e aprendem mais pelo exemplo que pela fala), deveriam ter falado como ela fica linda de máscara e ainda ajuda a cuidar do mundo quando a utiliza (sim, ela não tem consciência da importância do uso da máscara, mas toda criança adora cuidar do mundo). Teve uma senhora que comentou na postagem do vídeo que comprou máscara dos personagens favoritos dos seus netos para que eles se sentissem mais felizes usando, o que é uma ótima estratégia, no entanto é nítido que a menininha não tinha tido esse preparo, afinal a máscara que o pai tentava lhe impor é aparentemente uma dessas descartáveis de tnt. Eu fiquei imaginando que essa menininha deve ser daquelas crianças que vão ao supermercado sem máscara com os pais, ou ainda que essa criança pode não ter saído de casa durante a pandemia até o momento da viagem, e por isso não teve a oportunidade de vivenciar o uso do equipamento antes, mas aí fiquei pensando também em quantas crianças estarão na mesma situação dela e terão que “de repente” voltar às aulas. Na aeronave só tinha ela com 2 anos que não queria usar a máscara, e na escola?

Cabe à família “treinar” a criança para a volta às aulas, de modo a garantir que ela vá utilizar de forma correta a máscara, fazer higienização das mãos, saber como se alimentar na hora do recreio, o que fazer cada vez que precisar retirar a máscara para a troca ou para se alimentar ou beber água, a importância do distanciamento, como fazer quando precisar ir ao banheiro, e principalmente a importância de respeitar os colegas, professores e funcionários, zelando pela saúde de todos. Pais, vocês já estão preparando seus filhos nesse sentido? No quesito protocolo de segurança quanto ao COVID, você tem sido um bom exemplo para o seu filho? Não pensem que uma criança de 3, 6 ou 10 anos vai da noite para o dia sair de casa onde fica à vontade e chegar na escola sabendo isso tudo, ou muito menos que a escola vai receber seu filho no primeiro dia de aula e ensinar isso tudo, cabe a vocês garantirem em casa esse ensinamento, cabe a vocês treinarem seus filhos para esse retorno às aulas dando o exemplo, a escola vai cobrar deles essa postura de responsabilidade com todos... assim como você ensinou a se portar à mesa, assim como ensinou a tomar banho ou usar o sanitário, assim como ensinou escovar os dentes ou a importância de falar “muito obrigado”, “bom dia”, “me desculpe”, é sua vez novamente de preparar o seu filho, e não é só para a volta às aulas, e sim para a volta a uma rotina fora de casa e longe dos seus cuidados, seja pós ou durante pandemia. Assim como as escolas, seu filho deve estar preparado para a volta às aulas e para as novas rotinas de higienização e segurança, deve estar preparado para o “novo normal”, e hábito não se faz da noite para o dia, é preciso preparo desde já.

Caso precise ir às compras com o seu filho, aproveite a ida ao supermercado para que ele vivencie a experiência da máscara, do uso do álcool. De acordo com suas condições financeiras, providencie máscaras atraentes, um recipiente para álcool em gel que ele se orgulhe de exibir e usar, são crianças, e assim como todos os acessórios que usam, os equipamentos de segurança também devem ser atraentes.

Faça uma pausa para uma reflexão: Você confia no seu filho fora de casa e longe dos seus cuidados neste momento? Ele está preparado para esse desafio?

A uns tempos atrás o Fantástico apresentou um quadro muito interessante que se chamava “Meu filho nunca faria isso”, eu assisti alguns episódios e achei super interessante, afinal os pais colocavam sua mão no fogo pelo filho, baseado na cultura e nos ensinamentos que foram passados em casa, e a cada episódio muitos se surpreendiam com a atitude dos filhos, na contramão da educação oferecida e pior, na contramão da segurança, tomando decisões que poderiam colocar até sua vida em risco.

Por isso insisto nesta reflexão: Você confia no seu filho fora de casa e longe dos seus cuidados neste momento? Ele está preparado para esse desafio?

No meu caso a resposta é não. Minha filha não volta para e escola enquanto não houver uma segurança no ar. Tenho conversado muito com ela para falar sobre o assunto, inclusive antes de postar esse texto, e também tenho observado as atitudes em relação à higienização das mãos, ao tirar e pôr a máscara, e cada vez mais me convenço de que não é hora de voltar. Em uma das nossas conversas já me garantiu que se um colega quiser um pouquinho do seu lanche ela vai compartilhar...

Vamos a mais um detalhe que também merece uma reflexão: Tem pais que enviam filho com febre pra escola. Tem pais que enviam filho com piolho pra escola. Tem pais que enviam filho gripado pra escola. Tem pais que enviam filho com conjuntivite pra escola. Tem pais que enviam filho com diarreia pra escola. Acha mesmo que uma criança com covid e assintomática vai ficar em casa? E pior, em todos os casos que citei acima nós professores conseguimos identificar o problema e no mínimo tomar uma providência para tentar garantir a segurança das demais pessoas que estão em contato com essa criança, o que não é o caso desse “vírus invisível”. Diariamente poderemos estar em contato com o vírus  no ambiente escolar, sem sequer ter noção disso.

Para finalizar, pensemos sobre a fala de que crianças são pouco transmissoras ou que se contaminam menos. Quanto a isso também trago uma reflexão, primeiro que “pouco transmissora” significa que são transmissoras também, e segundo que “contaminam menos” por estarem menos expostas ao vírus, e mesmo assim, sem estarem nas escolas, foram só em 2020 (9 meses), 1.118 mortes de crianças e adolescentes, sendo 170 com idade de 1 a 5 anos, 604 de 6 a 19 anos, e outras 344 com menos de 1 ano, (https://observatorio3setor.org.br/noticias/514-criancas-de-ate-5-anos-morreram-de-covid-19-no-brasil/) pouco? A dengue matou em uma de suas maiores epidemias, em 2019, 754 pessoas em 1 ano (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/01/brasil-registra-em-2019-segundo-maior-numero-de-mortes-por-dengue-em-21-anos.shtml).

Será que quando as crianças voltarem ao ambiente escolar, começarem a tomar ônibus, lidar com uso de máscaras, se alimentar fora de casa, compartilhar banheiros, material escolar, lanche, elas continuam "não se contaminando" e “não transmitindo” a doença para sua familia ou para a comunidade escolar? Só saberemos essa resposta com a volta às aulas, mas para isso, crianças, professores e toda a comunidade escolar estarão expostas ao vírus e suas consequencias, qualquer um de nós correrá o risco de se deparar com esse vírus dentro da sua casa, então por fim pergunto, você está preparado para receber esse vírus e todas as consequencia trazidas por ele no seu lar?

Elis Pires, falando como mãe e com a experiência em sala de aula de escolas públicas e privadas no Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Curso Técnico, Graduação e no EaD. 

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