Novo Centro de Negócios na  Cidade de São Paulo
Por: Marina A.
13 de Abril de 2020

Novo Centro de Negócios na Cidade de São Paulo

Ação da Consultoria Imobiliária CB Richard Ellis e o Arranjo dos “Edifícios Inteligentes”

Geografia Urbanização brasileira Planejamento Urbano e Regional Geografia Atualidades

Introdução
 
Os últimos trinta anos marcaram profundas mudanças na cidade de São
Paulo no que diz respeito ao papel desempenhado por ela na produção e
organização do território brasileiro. A cidade encara o papel de “cidade
informacional”, dado os fluxos de informações que são produzidos e irradiados para
todo o território nacional. São informações de diversas ordens, tais como a produção
científica e tecnológica, publicidade e marketing, gestão, consultoria, dentre outros
serviços que são categorizados mais recentemente como pertencentes ao setor
quaternário da economia (Bernardes, 2001; Tomelin, 1998).
Segundo Tomelin (1998), esse seria um setor com características dominantes
de criação e decisão, que apela para a ação de produzir ou de se apropriar, de
transformar, de executar e de conceber bens materiais ou não-materiais capazes de
possuir um valor econômico dominante. Nesse sentido, São Paulo surge como um
centro onde a ação e produção quaternária são bastante evidenciadas a partir das
empresas localizadas na cidade e da estrutura informacional ali visualizada.
 Esse período é chamado por Santos (1997) como período técnico-científico e
informacional. Segundo o autor, trata-se de um período marcado pela intensa
associação entre ciência e técnica, pela presença das empresas hegemônicas, das
grandes corporações, da intensa internacionalização de capitais e de uma relação
marcante entre Estado e empresas. Neste trabalho, o destaque é para as empresas
de consultoria imobiliária, retratadas através da empresa estadunidense CB Richard
Ellis, e para a produção de novos objetos informacionais – edifícios inteligentes –
concebidos para colocar em ação as necessidades de empresas hegemônicas
instaladas na cidade.
 
A cidade de São Paulo e as ações da Consultoria CB Richard Ellis
 
 A CB Richard Ellis é uma das mais representativas empresas do setor de
consultoria e marketing imobiliário do mundo, contando com um quadro de mais de
300 escritórios em cerca de 50 países. No Brasil, a empresa instalou seu primeiro
escritório na cidade de São Paulo no final da década de 1970 e hoje mantém um
escritório também no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, a estrutura organizacional da CBRE trabalha na produção,
análise e promoção das informações sobre o mercado imobiliário. Os dados
produzidos pela empresa são bastante claros quanto ao papel informacional de suas
ações. A empresa trabalha na produção, tratamento e na difusão de informações
que são posteriormente utilizadas pelos seus clientes a fim de aumentarem a sua
competitividade, atendendo uma demanda de racionalidade das ações empresariais
e espaciais.
Para Bernardes (2001), essas empresas são pré-requisitos para a
implantação de redes globais, pois promovem internacionalmente técnicas de gestão
para acelerar o ritmo de reestruturações espaciais. Elas são elos de solidariedades
organizacionais, ou seja, estratégias políticas e técnicas para resoluções de
questões corporativas através da produção e circulação de informações necessárias
aos negócios corporativos. Em São Paulo essas ações acontecem, a partir de
empresas como a CB Richard Ellis, na conformação do Novo Centro de Negócios na
cidade, situado no chamado Quadrante Sudoeste, que engloba as intermediações
da Avenida Faria Lima, Avenida das Nações Unidas e Avenida Luís Carlos Berrini.
A CBRE busca consolidar um mercado de edifícios de escritório de alto
padrão, como as designações de “Inteligente” nos anos de 1990. A atração dos
novos investimentos é realizada mediante um conjunto de fatores que procuram
marcar a singularidade: infra-estruturas físicas e comunicacionais, regulação política
e social, qualidade de vida, dentre outros. A cidade dota-se de modernas estruturas
informacionais para atender aos interesses das grandes empresas localizadas no
Brasil, principalmente no que toca às tecnologias de informação, prestação de
serviços e análises prospectivas de mercado. Dentre essas estruturas, destacam-se
os chamados “edifícios inteligentes”, objetos previamente concebidos para a difusão
de informações, colocando em prática as ações das grandes corporações
localizadas na cidade de São Paulo.
 
Novos Arranjos Espaciais e o Novo Centro de Negócios
 
A década de 1990 em São Paulo é denominada por Castillo e Bernardes
(2001) como a da “produção imobiliária para as empresas”, fazendo alusão aos
eixos viários envolvendo o Quadrante Sudoeste. Trata-se de uma área que passou a
contar com sistemas técnicos especializados, “edifícios inteligentes”, redes
telemáticas, sistema viário acessível aos aeroportos, grandes estacionamentos,
dentre outros. Toda essa infra-estrutura é acompanhada e gerenciada por empresas
de consultoria imobiliária que marcam um novo padrão de ocupação, tendo forte
atuação nessa região a CB Richard Ellis.
Devido a uma maior exigência das empresas multinacionais por espaços de
maior racionalidade durante a década de 1990, os empreendimentos do setor
incorporaram novas técnicas, fazendo com que o período fosse marcado pela
grande entrega de espaços considerados de Alto Padrão. O mercado de edifícios
para escritório na cidade de São Paulo gira, hoje, em torno dos grandes
empreendimentos imobiliários voltados ao atendimento das grandes corporações,
principalmente as transnacionais, fazendo com que a cidade se equipe de tal
maneira à atender as necessidades exigidas por estas.  
Atualmente, existe uma geração de edifícios – “inteligentes”. A característica
mais importante desses sistemas é atingida quando dão suporte à uma grande base
de dados, com capacidade de processar rapidamente uma vasta quantidade de
informação. Outro fator imprescindível é a possibilidade de ser adaptado às novas
tecnologias que vão surgindo (flexibilidade). Há uma congruência entre estrutura
física e a localização dos edifícios que comporia a “família inteligente”. Esses objetos
informacionais são localizados de forma específica a que produzam os resultados
que deles se esperam. Com relação a estrutura, Santos (1997) diz que nos objetos
informacionais existe uma adequação entre a estrutura interna  e a função a que ele
se destina e que essa extrema adaptação torna possível sua ação planejada.
Para Bernardes (2001), a implantação de objetos e ações informacionais
hegemônicos valorizam o espaço geográfico, ocorrendo “uma renovação do
conteúdo geográfico”, dada a divisão internacional do trabalho fundada na
informação. Nesse caso, São Paulo assume de fato um novo papel na Formação
Sócio-Espacial brasileira, a de metrópole informacional.
Essa análise da cidade de São Paulo nos permite apresentar dados que, nas
palavras de Bernardes (2001), revelam a “contemporaneidade de São Paulo”. Os
serviços oferecidos pela CBRE estão em plena consonância com a estruturação
desses edifícios e com a inserção da cidade de nas formas hegemônicas da
economia mundial, através dos espaços da globalização. Compreende-se, dessa
maneira, que a conformação do Centro de Negócios Corporativos, faz parte de uma
reestruturação que requer formas e ações conformativas: objetos informacionais
apropriados (“edifícios inteligentes”) e consultoria imobiliária de alcance e padrões
internacionais.
A empresa CB Richard Ellis e a estrutura montada no Novo Centro de
Negócios são exemplos que atestam que São Paulo constitui-se como um espaço
da globalização, uma cidade corporativa e desigual, considerando-se as
especificidades da modernização num país periférico como o Brasil.
 
Bibliografia
 
BERNARDES, A. 2001.A contemporaneidade de São Paulo: a produção e o novo
uso do território brasileiro. Tese de doutorado, FFLCH – USP. São Paulo
CARLOS, A. F. A. 2001 Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida
cotidiana. Ed. Contexto. São Paulo.
CASTILLO, R. SILVA, A. M. B. 2001. Dinâmicas atuais da metrópole paulista: a
promoção imobiliária para as empresas. In: Boletim de geografia, ano 19. São Paulo.
FIX, Mariana. São Paulo cidade global: Fundamentos Financeiros de uma Miragem.
São Paulo: USP-FFLCH-DS – Dissertação de Mestrado, 2003.
FRUGOLI, H. 2000. Centralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações
na metrópole. Edusp, São Paulo
HARVEY, D. 1994. Condição pós-moderna. Ed. Loyola. São Paulo.
SANTOS, M. 1997. A Natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção. Ed.
Hucitec. São Paulo.
SANTOS, M. 1994. Por uma economia política da cidade. Ed. Hucitec, São Paulo.
TOMELIN, M. 1988. O quaternário: o seu espaço e poder. Ed. UNB. Brasília.
SCHIFFER, S.R. 2002. Economic Restructuring and Urban Segregation in São
Paulo. In: PETER, M. KEMPEN, R. van. Of States and Cities: The Partitioning of
Urban Space. Oxford Geographical and Environmental  Studies Series. Londres.

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