Os casos latinos
Por: Magno F.
10 de Outubro de 2014

Os casos latinos

Letras

Uma propriedade dos seres humanos é a fala. Outros animais usam sons para expressar emoções e paixões, mas o ser humano é capaz de transmitir mensagens através da sua voz. Dentro os animais, só o homem é capaz de dissociar o significado do significante e guardá-lo na memória. Um
cachorro late quando um estranho aparece no portão. Mas, quando seu dono chega no final do dia, ele não late avisando que um estranho apareceu no meio da tarde. Por isso, só o homem está apto a contar histórias, inventar ficções ou explicar uma ideia. Essas verbalizações acontecem por partes, e não de uma vez. Uma história pode ser dividida nos vários eventos que a compõem, que na linguagem escrita seriam os parágrafos. Estes, por sua vez, são compostos por períodos, que indicam cada ação, simples ou composta, de que se formam os parágrafos. E os períodos, por fim, se dividem em orações, que é unidade de sentido básica: ela informa a ação, quem a realiza, quem a sofre, e suas circusntâncias. O primeiro elemento é expresso por verbos; o restante, por nomes.

Cada componente da oração, pois, desempenha um encargo. É preciso que seja dito o que é feito ou realizado. Quem o faz é o verbo. Do mesmo modo, é necessário informar quem a fez ou realizou, e isto cabe ao sujeito. Da mesma maneira, se o âmbito da ação ultrapassa o sujeito, convém indicar quem a sofre, e isso é feito pelo objeto direto. Na maioria das línguas modernas, cada uma dessas funções é determinada pela posição ou pelo sentido das palavras. Nas línguas antigas e no alemão, todavia, cada palavra tem um desinência que indica sua função sintática. Em outras palavras, nelas os nomes se declinam segundo a sua função assim como os verbos se conjugam segundo o seu tempo. Sendo assim, a mesma palavra terá uma terminação diferente se sua função se alterar. Em Roma in Italiā est, o vocábulo Italia é adjunto adverbial da oração e indica uma circunstância do verbo esse, o correspondente latino do português ser. Não é assim, porém, em Italia in Europā est, em que o mesmo vocábulo desempenha a função de sujeito. Tendo variado o papel da palavra na oração, variou também a sua terminação. Em latim, cada função sintática é um caso, isto é , uma flexão do nome. O nominativo expressa o sujeito, e sua terminação é um curto ou simplesmente ´a´: Italia; o ablativo indica o lugar onde a ação acontece, e sua terminação é um ´a´ longo ou simplesmente ´ā´. As duas orações poderiam ser ligadas por uma conjunção ou por uma vírgula, formando assim um período composto: Roma in Italia, Italia in Europā est.

Roma e Italia são palavras femininas e pertencem à primeira declinação. É impossível, todavia, que uma língua nomeie as cidades somente com esse gênero. A principal cidade do Lácio, Roma, é feminina. É para lá que acorriam todos os romanos em busca de fazer valer os seus direitos. E era de lá que saíam as leis que governariam o mundo. Roma é portanto uma fonte de justiça, e essa divindade pagã era representada como mulher. As cidades que a cercavam, todavia, eram chamadas de oppida, que é o neutro plural de oppidum. Este vocábulo deriva de ops, que significa força. Eram, com efeito, vilas fortificadas e funcionvam como pontos avançados de defesa contra os bárbaros que tentavam invadir Roma. Seus muros eram cobertos de lanças pontiagudas e nos seus ângulos se erguiam torres de onde a sentinela vigiava a aproximação do inimigo. Uma destas cidades, que ficava a 25 de quilômetros para o sudoeste de Roma, era Tusculum. Tusculum oppidum est. O gênero adjetivo concorda com o do substântivo. A declinação é a segunda. O caso em que as palavras se encontram é o nominativo. Os vocábulos que se agrupam ne segundo conjunto de desinências, porem, não são somente os neutros. Há também as masculinas. Aegyptus in Africā est.

O verbo ser é o principal de qualquer língua. Em latim, esse não significa somente ser, mas também estar e existir. Ele é usualmente empregado para fazer a ligação entre o sujeito e algo que pode ser dito dele. No entanto, há verbos que designam uma ação do sujeito contra um objeto. Eles são chamados de transitivos. Marcus et Quintus fratres sunt. Quintus Marcum pulsat. A terminação do nome próprio de Marcos muda quando ele passa de sujeito a objeto: o ´m´ indica que a coisa designada sofre a ação do sujeito, e ele é o sinal do caso acusativo. A mesma mudança acontece na primeira declinação. Iulia cantat. Marcus Iuliam pulsat. O verbo cantare é distinto do pulsare (bater) porque seu significado não necessita de um complemento. Trata-se de uma ação intransitiva, isto é, que não depende de outro para ser realizada. O caso acusativo, portanto, aparece quando o o verbo não é nem de ligação, nem itransitivo, isto é, ele surge quando a ação é transitiva. Há casos, porém, cuja aplicação não envolve a transitividade do verbo. O genitivo, por exemplo, que indica uma relação de posse, pode ser usado em orações com o esse ou qualquer outro verbo. Marcus filius Iulii est. Quintus faciem Marci pulsat. O genitivo será regido por alguns verbos especiais, mas, na maioria das vezes, é apenas um adjunto adnominal. A relação do vocativo não é tanto com o verbo em si quanto com seu modo. É raro que apareça um imperativo sem que se mencione o destinatário da ordem ou pedido, que é então expresso pelo vocativo. Dominus servum vocat: Mede, veni! - O senhor chama o servo: - Medo, vem! O caso, todavia, que se equipara ao acusativo na dependência para com o verbo é o dativo. Ele expressa no interesse de quem o sujeito age, e há determinadas ações que não se compreendem sem que seu beneficiado seja indicado, v.g., dar. Qualquer doação, v.g, de uma maça (em latim, malum), não se compreende sem aquele em favor de quem é realizada. Aemilia Syrae malum dat

Estes, portanto, são os casos da língua latina: nominativo, ablativo, acusativo, genitivo, vocativo e dativo. As desinências que indicam que função sintática a palavra desempenha variam conforme a declinação a que ela pertence. Aqui começamos a ver duas: a primeira e a segunda. Há, porém, mais três. Decorá-las não é difícil. Bastam uns poucos exercícios para que automaticamente o aluno identifique em que caso poderia estar um vocábulo. E a análise sintática é uma ferramenta muito útil nesse processo.

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